Índios guaranis chamavam o Pau-ferro
de Ybyráytá que quer dizer madeira pedra
Artista plástico Marquito Moraes, do
Ateliê de Artes Cerro da Bela Vista, localizado no interior do município de
Bossoroca, é seguidor do legado cultural missioneiro. Desenhista com passagem
por várias gráficas e jornais, especializado na técnica de bico de pena, autor
de obras das quais, coleção “Troncos Missioneiros”, doada ao Acervo Noel
Guarany, que se encontra em permanente exposição no hall de entrada da prefeitura
Municipal de Bossoroca.
Troncos Ameríndios.
Esculturas em cerne de pau ferro utilizando madeira de reciclagem
Marquito explica que “palanques (moirões) de pau ferro,
que eram retirados das cercas, por estarem danificados pela ação do tempo ao
ficarem cravados por até 100 anos dividindo propriedades rurais, havia um
enorme potencial artístico, possibilitando dar sobrevida à matéria morta, madeiras
de árvores com mais de 500 anos que foram tombadas das matas nativas no
processo de ocupação da região das Missões no século XIX”.
“Por
ser autodidata descendente de guarani por parte de avó materna, ao retornar às
raízes decidi fazer o caminho inverso de meus antepassados, índios esculpiram
imagens sacras, sendo a única arte original das missões jesuíticas
do Rio Grande do Sul que chegou aos dias de hoje que estão nas igrejas, museus,
universidades, etc.”.
“Nessa
aventura estilista extraio índios da nossa história que estão contidos no cerne
do Ybyráytá, árvore com características peculiares que somente se encontra
nesta região do Rio Grande do Sul”.
Ybyráytá – um charrua que andou muito na paisagem sul-americana, cruzou o gran chaco em direção a Cochabamba, falou com guaranis da foz Do Yguaçú, caçou emas com seu povo nos campos finos do Icamaquã, lutou contra o invasor, amou tudo que tinha e morreu para renascer em imagem esculpida num tronco de pau-ferro.
Ybyráytá
Madeira pedra
Ybyráytá era árvore milenar em harmonia as margens do rio Icamaquã até tombar a golpes de machado, seu tronco foi falquejado para fazer duas tronqueiras para porteira da cerca de pedra da estância jesuíta.
Homem branco chegou
Campo fino
Mudou destino
Tombou pau-ferro
Furou o cerne
Do ybyráytá
Para passar varejão
Das tronqueiras da porteira
Ybyráytá
Madeira dura
Pau-ferro
Do cerne escuro
Nasceu no pedregulho
Num cerro
Foi mangrulho
Ybyráytá adormeceu cravado no alto de um cerro de pedra ytacurú. Viu tropas de gado encerrado na mangueira de pedra, gritos e assovius dos campeiros, presenciou doma de baguais, aparte e castração; índios partirem para guerra, defender seu chão. Conheceu o esplendor e a decadência da civilização jesuítica/ guarani.
Queima guarda-fogo
De Ybyráytá
Chora dor da pampa
Tropeiro jesuíta
Fica na cinza
História das estâncias
Onde a ganância
A goiva talhou imagem
Com golpes de macete
Desferido pela mão do escultor
Junto ao índio natureza
Arte em louvor!
Ybyráytá |
Nheçu - Líder indígena Guarani, defensor de seu povo, sua cultura e sua terra. Obra esculpida em cerne de pau ferro (Ybyráytá) representa o índio altivo. Sentado no trono que é o tronco de uma árvore o Pajé Guarani com o tacape na mão, grande líder indígena que impôs resistência aos conquistadores no século XVII.
Nheçu |
Nicolau Neenguiru – Líder Missioneiro Corregedor do povo de Concepción, articulador da união das tribos que lutaram em defesa de seu povo na Guerra Guaranítica sob o comando militar de Sepé Tiarajú. Neenguiru mateia solito, um pensador que busca na seiva da erva mate, sabedoria.
Nicolau Neenguíru |
Sepé Tiarajú |
Andresito Guacurari – guerreiro guarani que reuniu seu povo para lutar pela retomada dos Sete Povos. Obra esculpida em pedaço de palanque que estava enterrado na coxilha de terra vermelha. Representa o guerreiro que tem na expressão do rosto a vontade de expulsar o invasor, com o punho cerrado soca a maldade que agride seu povo.
Andresito Guacurari |
Anahy – Índia missioneira de São Miguel. Quando os índios que restaram em torno das reduções seguiram o exército de Andresito Guacurari, ficando apenas velhos e crianças, coube a Anahy reorganizar seu povo. Peça esculpida em cerne de pau ferro num pedaço de palanque que durante 70 anos esteve cravado no mangueirão da Fazenda Bela Vista.
Anahy |