sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Índios guaranis chamavam o Pau-ferro de Ybyráytá que quer dizer madeira pedra
            Artista plástico Marquito Moraes, do Ateliê de Artes Cerro da Bela Vista, localizado no interior do município de Bossoroca, é seguidor do legado cultural missioneiro. Desenhista com passagem por várias gráficas e jornais, especializado na técnica de bico de pena, autor de obras das quais, coleção “Troncos Missioneiros”, doada ao Acervo Noel Guarany, que se encontra em permanente exposição no hall de entrada da prefeitura Municipal de Bossoroca.

Troncos Ameríndios. Esculturas em cerne de pau ferro utilizando madeira de reciclagem

            Marquito explica que “palanques (moirões) de pau ferro, que eram retirados das cercas, por estarem danificados pela ação do tempo ao ficarem cravados por até 100 anos dividindo propriedades rurais, havia um enorme potencial artístico, possibilitando dar sobrevida à matéria morta, madeiras de árvores com mais de 500 anos que foram tombadas das matas nativas no processo de ocupação da região das Missões no século XIX”.
“Por ser autodidata descendente de guarani por parte de avó materna, ao retornar às raízes decidi fazer o caminho inverso de meus antepassados, índios esculpiram imagens sacras, sendo a única arte original das missões jesuíticas do Rio Grande do Sul que chegou aos dias de hoje que estão nas igrejas, museus, universidades, etc.”.
“Nessa aventura estilista extraio índios da nossa história que estão contidos no cerne do Ybyráytá, árvore com características peculiares que somente se encontra nesta região do Rio Grande do Sul”.




Ybyráytá
Madeira pedra

Ybyráytá era árvore milenar em harmonia as margens do rio Icamaquã até tombar a golpes de machado, seu tronco foi falquejado para fazer duas tronqueiras para porteira da cerca de pedra da estância jesuíta.

Homem branco chegou
Campo fino
Mudou destino
Tombou pau-ferro
Furou o cerne
Do ybyráytá
Para passar varejão
Das tronqueiras da porteira
Ybyráytá
Madeira dura
Pau-ferro
Do cerne escuro
Nasceu no pedregulho
Num cerro
Foi mangrulho


Ybyráytá adormeceu cravado no alto de um cerro de pedra ytacurú. Viu tropas de gado encerrado na mangueira de pedra, gritos e assovius dos campeiros, presenciou doma de baguais, aparte e castração; índios partirem para guerra, defender seu chão. Conheceu o esplendor e a decadência da civilização jesuítica/ guarani.


Queima guarda-fogo
De Ybyráytá
Chora dor da pampa
Tropeiro jesuíta
Fica na cinza
História das estâncias
Onde a ganância
Ceifaram os sete povos.

 Ybyráytá – um charrua que andou muito na paisagem sul-americana, cruzou o gran chaco em direção a Cochabamba, falou com guaranis da foz Do Yguaçú, caçou emas com seu povo nos campos finos do Icamaquã, lutou contra o invasor, amou tudo que tinha e morreu para renascer em imagem esculpida num tronco de pau-ferro.
A goiva talhou imagem
Com golpes de macete
Desferido pela mão do escultor
Junto ao índio natureza
Arte em louvor!


Ybyráytá

Nheçu - Líder indígena Guarani, defensor de seu povo, sua cultura e sua terra. Obra esculpida em cerne de pau ferro (Ybyráytá) representa o índio altivo. Sentado no trono que é o tronco de uma árvore o Pajé Guarani com o tacape na mão, grande líder indígena que impôs resistência aos conquistadores no século XVII.


Nheçu



Nicolau Neenguiru – Líder Missioneiro Corregedor do povo de Concepción, articulador da união das tribos que lutaram em defesa de seu povo na Guerra Guaranítica sob o comando militar de Sepé Tiarajú. Neenguiru mateia solito, um pensador que busca na seiva da erva mate, sabedoria.

Nicolau Neenguíru
      




       Sepé Tiarajú – Corregedor de São Miguel, guerreiro, aguerrido que morreu lutando na guerra guaranítica, hoje vive no imaginário popular onde triunfa imponente.  Seu nome está gravado no seleto grupo de heróis da pátria. Escolhi para representa-lo, lasca de tronco de pau-ferro que ficou por mais de 100 anos no local onde seu tronco foi tombado, findando uma árvore de mais de 500 anos, que nasceu antes da invasão dos europeus e viu todo o esplendor do povo indígena.




Sepé Tiarajú
      Andresito Guacurari – guerreiro guarani que reuniu seu povo para lutar pela retomada dos Sete Povos. Obra esculpida em pedaço de palanque que estava enterrado na coxilha de terra vermelha. Representa o guerreiro que tem na expressão do rosto a vontade de expulsar o invasor, com o punho cerrado soca a maldade que agride seu povo.




Andresito Guacurari


      Anahy – Índia missioneira de São Miguel. Quando os índios que restaram em torno das reduções seguiram o exército de Andresito Guacurari, ficando apenas velhos e crianças, coube a Anahy reorganizar seu povo. Peça esculpida em cerne de pau ferro num pedaço de palanque que durante 70 anos esteve cravado no mangueirão da Fazenda Bela Vista.





Anahy