Troncos Missioneiros em bico de pena
Noel Guarany guitarreando ao pé do fogo, num rancho de capim, no Rincão
dos Fabrício, berço de seus ancestrais. A porta aberta e ao longe se vê o potro
sem dono, pastando livre, com um sol encoberto por uma nuvem espessa sobre a
pampa, como quem dá longevidade à arte do cantor e guitarreiro, que sempre
bendizia o torrão amado, Bossoroca, a Buena Terra Missioneira..
Coleção TRONCOS MISSIONEIROS – Obras
confeccionadas em bico de pena por Marquito
Moraes, no Ateliê de Artes Cerro da
Bela Vista. Obras doadas pelo autor, ao Acervo Cultural Noel Guarany, localizado na Prefeitura Municipal de
Bossoroca-RS.
Noel Guarany é um coxilhão de terra vermelha, com o pala
representando os campos da Bossoroca. No peito esta a Cruz Missioneira, ao lado
do coração, a barroca onde nasce o manancial e o potro sem dono, livre como o Pajador.
Jayme Caetano Braun é um cerro de pedra nos campos finos da
Timbaúva, rodeado de capões de mato e sangas com águas cristalinas. Do lenço em
forma de barroca, nasce o manancial e ao longe um piquete de cavalarianos vem
homenagear. No horizonte, a cruz missioneira caindo no poente, para um novo amanhecer.
Cenair Maicá é um índio ligado ao mato e rio. O lenço preto
no pescoço é uma identidade contestadora, de quem não é chimango e nem
maragato. Há um sentimento de luto pela condição social a que foram submetidos
os povos indígenas.
Noel Guarany flutua sobre as águas do rio Uruguay, o cenário
de sua inspiração, um caique pescador, vendo-se um rancho costeiro, como o
prenúncio para um baile. A arte de Noel é sempre viva e anda por si só, como
água de um rio, desconhecendo fronteiras.
Jayme Caetano Braun no fim da vida, o pajador velho, com a formação
do Rio Grande do Sul, a primeira propriedade rural, um cercado de pedras em
volta do rancho de capim e curral para o gado. Homens domam potros em frente à
morada, um piquete de cavalarianos galopa a seu encontro, para levar o pajador
para um novo tempo em outra vida. No alto, ao por de sol, o corvo, apelido dado
ao pajador, que gostava de vestir-se de preto.
Cenair Maicá no fim da vida, já doente, seus olhos tem um
brilho intenso, como de quem está vendo longe, talvez a terra sem mal dos
guaranis.
Noel Guarany na visão de José Luiz Cunha Pacheco
(Zizi), captado por este artista: “Noel de semblante simpático - não manso como
um Buda - sábio, contestador, sua guitarra em posição de uma arma, o dedo no
gatilho, sempre pronto a cuspir acordes bravios, para impor a nova ordem, a
verdadeira arte missioneira”.
Pedro Ortaça – Nas Missões, seu símbolo é a Cruz Missioneira.
Entoando, um galo missioneiro, defensor dos índios Mbyá Guarani, seu canto traz
a magia do pampa e a essência dos ranchos de pau a pique, dos fandangos
costeiros, das estâncias e das ramadas.